Em seu segundo filme, Karim Ainouz (diretor do excelente
Madame Satã, 2002) conta a história da jovem ‘retornante’ Hermila (a pernambucana Hermila Guedes, que esteve em
Cinema, Aspirinas e Urubus, 2006) que, acompanhada do seu filho pequeno, volta de São Paulo para o interior do Ceará, na pequena cidade de Iguatu, deparando-se com seu passado e sua família. Frente às dificuldades e desilusões com a falta de oportunidades do ermo local, Hermila decide rifar-se sob o codinome Suely (fato mostrado com um ato de rebeldia e revolta contra a sua vida, Iguatu e seu próprio corpo), juntando dinheiro necessário para uma fuga que lembra a de uma prisão.
Naturalista e intrusa, a câmera do consagrado fotógrafo Walter Carvalho (Central do Brasil, 1998) descortina e invade a rotina dos personagens, quase como uma mosca na parede, de olhos e ouvidos bem abertos à pulsação, ao cheiro de suor e acetona. O filme dialoga de maneira muito interessante com Madame Satã. Hermila é Lázaro Ramos em essência e virtuose. E a jovem atriz oferece-nos uma interpretação contida e sincera, ressaltando gestos e movimentos mais do que palavras. O restante do elenco feminino também se destaca, desde a divertida prostituta Georgina, passando pela tia lésbica enrustida Maria, chegando a avó Zezita (a atriz Zezita Matos), dona de duas das cenas mais emocionantes do longa. João Miguel (Cinema, Aspirinas e Urubus), por sua vez, nos brinda com mais uma grande interpretação, mesmo com o pouco tempo de tela. Seu personagem João representa o ponto de equilíbrio e sensatez do filme. Sua paixão por Hermila é palpável. E seu medo de perdê-la mais uma vez comove.
Bem filmado e bem encenado, O Céu de Suely pode passar a impressão de frieza e distanciamento. O exercício estilístico observado em Madame Satã não ocorre aqui. A cenografia é contida, a fotografia é discreta, o roteiro não inventa nem cai em lugares comuns. Não é um filme com algum momento fraco, ou problemas localizados, mas uma obra que sugere algo de um rascunho apresentado como pronto. Assim como a vida de Hermila. O arremate final representa uma delicada e amarga conclusão que dá ao filme algo de coragem e a certeza de que um cineasta competente e fiel à suas intenções fez um filme certo, mas freqüentemente incerto. O céu de Suely é azul vibrante, tem nuvens bem definidas, mas é vazio de esperanças e está bem longe de onde a protagoniza pisa.
By Céu
Download do filme.Marcadores: anestesia
3 Comentários:
a cada dia que passa, vejo uma visão critíca e formadora de opiniões se construindo, e sinto orgulho de fazer parte da vida de alguém assim.quanto ao céu de suely,por mais sonhos que temos,ele sempre é distante,mesmo azul cintilante,como está no dia de hoje.li o texto, e abri a janela.me deparei com um céu como o descrito.só espero que o meu nunca perca o encanto, nem a esperança.
JÁ PERCEBI. O DEFEITO SOU EU. NÃO GOSTO DOS SEUS TEXTOS SOBRE FILMES, AIÁS, NÃO GOSTO SEQUER DE LER SINOPSES! POR ISSO, NÃO LEVE EM CONSIDERAÇÃO MINHA OPINIÃO ACERCA DESTES Q VC ESCREVE. MESMO PQ A IMPACIÊNCIA ME IMPEDE DE CHEGAR AO FIM, E TVZ EU ATÉ PERCA OPINIÕES GRANDIOSAS POR CAUSA DISSO. CARPE DIEM, CARPE NOCTEM, JUST CARPE IT!
One has filmed Brazilian? how good! not wise person who appreciated a good film of Brazil. kkk. I want to attend.
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