TARJA VERMELHA: março 2007 <body topmargin="0" leftmargin="0">
 

sons. imagens. letras. inutilidades e afins. tendências. modismos  velharias. devaneios. realidade. farmácias e remédios.

 
Anestesia: Pecados Íntimos (2006)
Anestesia: O Último Rei da Escócia (2006)
Tratamento de Choque: Fonte da Vida (2006)
Tratamento de Choque: A Passagem (2005)
Anestesia: O Teatro Mágico
Pílula do dia seguinte: Cores
Anestesia: The Arcade Fire – Neon Bible (2007)
Tratamento de Choque: Babel (2006)
Anestesia: O Céu de Suely (2006)
Tratamento de Choque: Marie Antoinette (2006)
 
março 2007
abril 2007
 

Blog do Dez

Kibe Loco

 

 

Anestesia: O Teatro Mágico



No inicio era o verbo... e o verbo era Deus...
e o verbo estava com Deus,
e já não eram sós , ambos conjugavam-se entre si, discutiam quem seria a primeira e a segunda pessoa, quem era verbo... quem era Deus, a ação e a interpretação... quem era a parte e quem era o todo.

Sejam bem vindos ao Teatro Mágico. Sejam bem vindos à poesia, ao circo, aos saraus do passado, aos saraus do futuro. Sejam bem vindos às cores, sons, melodias e encantamento. O som dos justos, dos amantes. O som da sensibilidade e do afeto.

Há três anos na estrada, a trupe paulista do Teatro Mágico, liderada pelo vocalista Fernando Anitelli, surgiu com a idéia de levar aos palcos a estrutura de um sarau. Aos poucos foram adquirindo artistas, sonoridade marcante e fãs, muitos fãs. Longe do mainstreem das grandes gravadoras, o Teatro Mágico destaca-se no cenário independente, com apresentações lotadas até a tampa e um histerismo por parte dos fãs visto apenas, atualmente, para um grupo de barbados balzaquianos cariocas.

Repleta de pequenos simbolismos, a deliciosa confusão fabulística proposta pelo grupo ganha força em letras ancoradas em uma simplicidade rebuscada, brincando com aliterações e jogos de palavras, num caldeirão pop que une MPB, circo e literatura de cordel. Referências buarquianas são óbvias. Porém, percebe-se também ecos de hip hop, reggae, rock e música pernambucana. Não se trata de algo tão inovador, afinal desde o século 16 temos commedia dell'arte por aí. O grande mérito é conseguir fazer poesia retratando crônicas do cotidiano urbano, contadas com muita brasilidade, ritmo e festa, provando a incrível habilidade de Anitelli para compor melodias pop fáceis, com refrões fortes, debaixo de um discurso que ele mesmo define como "de esquerda".

E assim temos a história do mar que se apaixona por uma menina, a sereia sentada na pedra mais alta e a sorte vinda num realejo. Se tudo que eu preciso se parece, porque é que não se junta tudo numa coisa só? E nós somos convidados também a mergulhar junto. Convidados a pintar o nariz e brincar de ser feliz. Convidados a pisar no picadeiro da felicidade e esquecer, mesmo por poucos minutos, de tudo ao nosso redor. A redoma criada pelo Teatro Mágico nos afasta do que é negativo, abrigando-nos em sua graciosa lona colorida e iluminada.

By Céu

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Pílula do dia seguinte: Cores


Cores imagens | Cores imagem | Cores imagens | Cores | Originais as cores | Demais as flores | E mais amores (...)

Visual novo! Essa moça com expressão sofrida ‘tarjada’ em cores rubras e vibrantes, presa a seu muro das lamentações particular, quase me tirou dos eixos. Fins de semana perdidos em frente ao pc criando e rejeitando visuais ao lado do mestre criador que quase surtou com minhas neuroses (o grande Leo). Só tenho que agradecer, muito. Pela paciência, perseverança e dedicação. Obrigado mesmo, amigo!

Espero que vocês tenham gostado da cara nova da nossa farmácia. Continuem o tratamento sem medo de overdose!

By Céu

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Anestesia: The Arcade Fire – Neon Bible (2007)



Já imaginaram reunir numa mesma composição farmacoquímica as guitarras espaciais do Radiohead com a sutileza vocal do Wilco, adicionando gotas épicas do Flaming Lips e a blueseira viciante do Stereophonics? Se conseguirem imaginar, tudo bem. Se não, preparem-se, a dose é pesada!

Desde o lançamento do já clássico ‘Funeral’ (2004), os canadenses do The Arcade Fire, em postura quase que messiânica, conquistaram fãs e prêmios em escala mundial numa rapidez pouco vista anteriormente. Utilizando diversos instrumentos musicais, principalmente guitarra, bateria e baixo, mas também violino, viola, violoncelo, xilofone, teclado, acordeon e harpa, a mistura sonora beira à excentricidade. Melhor, beira à genialidade, já que o termo excêntrico é apenas uma maneira de pessoas chatas se referirem a coisas ou pessoas interessantes.

‘Neon Bible’ (2007) chega com duas missões dificílimas. Superar seu antecessor e acabar de vez com o estigma do segundo álbum cuja maioria dos grupos de rock alternativo sofrem; e, principalmente, dar continuidade ao processo de "conversão" iniciado em 2004. Desde a abertura, com Black Mirror, passando pela épica e religiosa Intervention até chegarmos na impactante My Body Is a Cage, que o encerra, o que se ouve é um disco coeso, mas com evidentes altos e baixos, em que se percebe uma clareza poética ímpar, ousando em temas como religião, amor e moral.

‘Funeral’ continua intocável. É uma daquelas obras que de tão perfeitas chegam a incomodar. ‘Neon Bible’ é muito mais errante. Mas os erros aparecem com tamanha emoção que não incomodam. As ovelhas já conquistadas irão seguir fiéis. Angariar novas ovelhas pode parecer mais difícil, visto a "estranheza" do disco. A (over)dose pode provocar alucinações e devaneios. Talvez ‘Neon Bible’ seja a cereja em cima do bolo. Apetitosa e efêmera. Talvez tenhamos aqui o grande disco de 2007. Ou talvez o primeiro grande disco de 2007. Ou ainda o disco mais superestimado de 2007. Sinceramente, quando um ano começa com uma obra gerando tantas contradições, certamente o papai-noel ficará feliz!

By Céu

Download do disco

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Tratamento de Choque: Babel (2006)


O poder da palavra é imensurável. Palavras unem e destroem. Palavras confortam e ferem. Palavras não são somente palavras. Significados e símbolos indecifráveis ganham contornos, formas, cores e sons. O falar solidifica. O comunicar globaliza. A falta de palavras (ou de comunicação) leva à desordem, ao caos. Gera intolerância, preconceitos, casamentos falidos, pais ausentes e filhos disfuncionais.

Pensando nisso, o diretor mexicano Alejandro González Iñárritu (Amores Perros, 21 Gramas) concebeu Babel. Em seus melhores momentos o filme assombra. Em seus piores, soa como tese panfletária demagógica. Talvez Iñarritu tenha realizado o seu filme mais estéril. Porém o mais repleto de simbolismo. Talvez o mais etéreo, mas não o mais contundente. O que sobrava nos dois anteriores falta neste: emoção! O que estava ausente anteriormente apresenta-se desta vez: pretensão. Babel não sobrevive sozinho, se tornando extremamente dependente de seus irmãos mais velhos. E isso não é um elogio.

Não é um filme ruim. Longe disso. Talvez seus erros tenham sido propositais. Talvez a intenção tenha sido jogar um balde de água fria. Ou um balde com gelo, como preferirem. Mesmo se passando em sua maior parte em dois desertos (México e Marrocos), Babel é gelado. Mas o gelo queima, fere e dói.

Babel é sinestésico. Cheira a suor e sangue. O odor que exala nem sempre é agradável. A música de ‘Babel’ é harmônica, intercalando cenas de pura poesia visual. Babel pulsa e corta e preenche vazios, mesmo sendo vazio em grande parte. O peso de Babel é medido em toneladas, não em míseras gramas. Porém, grandiosidade de execução nem sempre significa grandiosidade de alma.

By Céu

Download do filme - Parte 1
Download do filme - Parte 2

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Anestesia: O Céu de Suely (2006)


Em seu segundo filme, Karim Ainouz (diretor do excelente Madame Satã, 2002) conta a história da jovem ‘retornante’ Hermila (a pernambucana Hermila Guedes, que esteve em Cinema, Aspirinas e Urubus, 2006) que, acompanhada do seu filho pequeno, volta de São Paulo para o interior do Ceará, na pequena cidade de Iguatu, deparando-se com seu passado e sua família. Frente às dificuldades e desilusões com a falta de oportunidades do ermo local, Hermila decide rifar-se sob o codinome Suely (fato mostrado com um ato de rebeldia e revolta contra a sua vida, Iguatu e seu próprio corpo), juntando dinheiro necessário para uma fuga que lembra a de uma prisão.

Naturalista e intrusa, a câmera do consagrado fotógrafo Walter Carvalho (Central do Brasil, 1998) descortina e invade a rotina dos personagens, quase como uma mosca na parede, de olhos e ouvidos bem abertos à pulsação, ao cheiro de suor e acetona. O filme dialoga de maneira muito interessante com Madame Satã. Hermila é Lázaro Ramos em essência e virtuose. E a jovem atriz oferece-nos uma interpretação contida e sincera, ressaltando gestos e movimentos mais do que palavras. O restante do elenco feminino também se destaca, desde a divertida prostituta Georgina, passando pela tia lésbica enrustida Maria, chegando a avó Zezita (a atriz Zezita Matos), dona de duas das cenas mais emocionantes do longa. João Miguel (Cinema, Aspirinas e Urubus), por sua vez, nos brinda com mais uma grande interpretação, mesmo com o pouco tempo de tela. Seu personagem João representa o ponto de equilíbrio e sensatez do filme. Sua paixão por Hermila é palpável. E seu medo de perdê-la mais uma vez comove.

Bem filmado e bem encenado, O Céu de Suely pode passar a impressão de frieza e distanciamento. O exercício estilístico observado em Madame Satã não ocorre aqui. A cenografia é contida, a fotografia é discreta, o roteiro não inventa nem cai em lugares comuns. Não é um filme com algum momento fraco, ou problemas localizados, mas uma obra que sugere algo de um rascunho apresentado como pronto. Assim como a vida de Hermila. O arremate final representa uma delicada e amarga conclusão que dá ao filme algo de coragem e a certeza de que um cineasta competente e fiel à suas intenções fez um filme certo, mas freqüentemente incerto. O céu de Suely é azul vibrante, tem nuvens bem definidas, mas é vazio de esperanças e está bem longe de onde a protagoniza pisa.

By Céu

Download do filme.

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Tratamento de Choque: Marie Antoinette (2006)


Acostumada a retratar personagens deslocados, fora de foco e desgostosos com o que os cercam, Sofia Coppola partiu para seu projeto mais ousado e ambicioso, retratar em tela grande a vida da austríaca Maria Antonieta, que deixou seu país de origem rumo à França para casar com Luis Auguste, o filho do Rei Luís XV, que, quatro anos depois, foi coroado como Luís XVI. A produção é uma adaptação de Marie Antoinette: The Journey, livro da autora Antonia Fraser sobre a rainha francesa.

Como nada da filmografia da herdeira do clã Coppola pode ser considerado convencional, fica até fácil compreender os
motivos que levaram o filme a ser vaiado no Festival de Cannes do ano passado, culminando em uma série de críticas negativas que tentaram diminuir a importânci
a e qualidade do filme, fundamentadas apenas em moralismos e rigidez histórica. Sofia não costuma fazer concessões, e com Marie Antoinette não foi diferente. Anacrônico, vigoroso e extremamente humano, o filme se destaca em meio a produções de época corretas e caretas, abusando de recursos até então impensáveis para produções de ‘reis e rainhas’.

Com Marie Antoinette, Sofia fecha o que seria uma trilogia onde mulheres interessantes vêem-se presas, física e emocionalmente, como as meninas de As Virgens Suicidas (The Virgin Suicides, 1999) presas a uma casa e a uma educação rigorosa, a jovem esposa de Encontros e Desencontros (Lost in Translation, 2003) naquele hotel, casamento falido e cidade estranha, e agora Maria Antonieta no Palácio de Versalhes.

Kirsten Dunst, em sua segunda colaboração com a diretora, encarna maravilhosamente bem a patricinha frívola e fútil desenhada pelo roteiro de Sofia. Não cabe aqui apontar equívocos históricos ou excesso de liberdade criativa. A fuga dos rótulos de uma biografia convencional sempre foi a meta da produção. A personagem é mostrada como uma adolescente inicialmente deslumbrada com o luxo e a riqueza da corte francesa, cujo encanto se esvai à medida que a cortina dos jogos de interesse e intrigas do palácio se abre para a jovem princesa prometida. Nada teria dado certo caso a interpretação da meiga 'Mary Jane' não funcionasse.

O filme traça um curioso paralelo com Barry Lyndon (Stanley Kubrick, 1975), retrato da Ingalterra do século 18 pintado por Kubrick, seja na abordagem do casamento como ferramenta de ascensão social, seja no uso da paleta de cores pastéis e fotografia rebuscada, dando a impressão que estamos assistindo a um filme-sonho, com planos nos quais a paisagem se reflete no próprio personagem que a observa. Tecnicamente, Marie Antoinette é impecável. Sonoramente também. O anacronismo auditivo imposto pela diretora, mesclando composições clássicas com o mais puro rock ‘new romantic’ é genial, utilizando músicas de grupos como o New Order, The Strokes e Air, tornando a trilha sonora decisiva em várias cenas.

Deixando perguntas sem respostas, abusando de cortes inteligentes e grandes saltos temporais, brincando com o expectador com referências visuais divertidas, o moderno Marie Antoinette e sua atmosfera cool, pinta a jovem e bela rainha com cores claras e luminosas, mostrando-a adolescente, sincera, jovial, subversiva, libidinosa e, principalmente, humana. Poderia ser você, ou qualquer outra mulher em qualquer outro lugar do mundo!

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Pílula do dia seguinte: Choose the sea

Acabou o mofo! Não preciso mais de luzes acesas durante todo o dia. Não necessito mais de ventilação artificial (apesar da persistência do vício). Caixas, pacotes, malas, fita adesiva. Sobe, desce, levanta, puxa, empurra. Suor, cansaço, palpitações constantes (tenho que procurar um cardiologista). Uma troca justa. Uma nova fase começa.

É tudo uma questão de escolhas. "Choose life. Choose a job. Choose a carrer. Choose a family”. Entre a passividade e comodismo, optei pelo mar. Optei pela brisa saudável. Optei pelo vai e vem das ondas ao horizonte de minha visão.

Deixo lá no ‘calabouço’ boas recordações. Foi um bom período, de muito aprendizado. Fiz bons amigos, alguns levarei comigo para sempre. Mas esta fase encerrou-se no sábado, quando o caminhão da mudança fez a curva e desceu a famosa ladeira que tanto me fez ofegar nesses anos. Acabou o mofo!

Passado o sufoco da mudança, preciso me concentrar nas obrigações acadêmicas. Algumas coisas me preocupam, o tempo está curto, as plantas e algumas pessoas não ajudam. Como é bom trabalhar com plantas, mas como elas podem te infernizar também. Preciso de uma prescrição ‘médica’ urgente para as minhas.

Agora o tratamento é o seguinte: acordar cedo com barulho do mar e do bem-te-vi que visita o telhado da casa ao lado, me espreguiçar na varanda, caminhar no calçadão (nos fins de semana), me concentrar e começar a escrever minha dissertação, beijar e abraçar meu amor (a quem serei sempre grato por tudo ter dado certo na mudança)... enfim, um tratamento sem fim, constante e extremamente prazeroso. Acabou o mofo!

By Céu

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Receituário

Dicas úteis e informações acerca do funcionamento da nossa ‘drugstore’

O tratamento completo será realizado a partir de quatro tipos de terapia intensiva. As formulações e prescrições aqui indicadas têm caráter puramente elucidativo e ilusório, até mesmo podem conter efeito placebo.


  1. Pílula do dia seguinte

Devaneios, teorias, formulações, hipóteses, rotina.

Indicações: niilistas e pacientes em estado terminal.

Contra-indicações: curiosidade compulsiva e déficits de atenção (piscou, perdeu!)

Posologia: segunda-feira.

  1. Anestesia

Sons, imagens, cafés, cigarros, cores, revistas rasgadas.

Indicações: vítimas acometidas do mal-súbito do deslocamento.

Contra-indicações: cardiopatas sensíveis a grandes emoções.

Posologia: quinta-feira.

  1. Homeopatia*

Letras, palavras, rimas, conexões, sexo, aditivos.

Indicações: pseudo-intelectuais que não encontram sentido no que lêem.

Contra-indicações: desde quando um bom livro (ou até mesmo um livro ruim!) tem contra-indicação, caralho?

Posologia: sexta-feira.

  1. Tratamento de choque

Impulso, web, vícios, manias, futilidades saborosas.

Indicações: maníacos depressivos solitários em busca de prazer e alívio imediato.

Sem contra-indicações

Posologia: a qualquer momento.

* Assinada por hipocondríaca extrema.

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Primeiras impressões (insones) em véspera de mudança


"Choose life. Choose a job. Choose a carrer. Choose a family. Choose a fucking big television, choose washing machines, cars, compact disc players and eletrical tin openers. Choose good health, low cholesterol, and dental insurance. Choose fixed interest mortgage repayments. Choose a started home. Choose yor friends. Choose leisurewear and matching luggage. Choose a three-piece suite on hire purchase in arage of fucking fabrics. Choose DIY and wondering who the fuck you are on sunday morning. Choose sitting on that couch whatching mind-numbing, spirit-crushing games shows, stuffing fucking junk food into your mouth. Choose rooting away at the end of it all, pishing your last in a miserable home, nothing more than an embarrassment to the selfish, fucked up brats you spawned to replace yourself. Choose your future. Choose life."

Ainda vão inventar uma pílula que é só tomar e pronto, contentamento certo!

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